Quem sou eu?

Minha foto
Quem sou? Isso importa? Sou apenas uma que bate na porta e diz um verso...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

MULHERÃO...


Peça para um homem descrever um mulherão.Ele imediatamente vai falar do tamanho dos seios,na medida da cintura,no volume dos lábios,nas pernas,bumbum e cor dos olhos.Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira,1,80m,siliconada,sorriso colgate.Mulherões,dentro deste conceito,não existem muitas:Vera Fischer,Leticia Spiller,Malu Mader,Adriane Galisteu,Lumas e Brunas.Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma a cada esquina.

Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir ao trabalho e mais dois para voltar,e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matricula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 Reais.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana.Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta,que malha,que usa salto alto, meia-calça,ajeita o cabelo e se perfuma,mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.Mulherão é quem leva os filhos na escola,busca os filhos na escola,leva os filhos para a natação,busca os filhos na natação,leva os filhos para a cama,conta histórias,dá um beijo e apaga a luz.Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.
Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo,é quem faz serviços voluntários,é quem colhe uva,é quem opera pacientes,é quem lava roupa pra fora,é quem bota a mesa,cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão.Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expediente de oito horas e enfrenta menopausa,TPM,menstruação.Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos,fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios.Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio pra azia.

LUMAS,BRUNAS,CARLAS,LUANAS E SHEILAS:Mulheres nota dez no quisito lindas de morrer, mas MULHERÃO É QUEM MATA UM LEÃO POR DIA

(Martha Medeiros)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ele me faz tão bem...




sossego




paz...




perto é onde mesmo?

Fico aqui a pensar sobre distancias e meu coração se confunde quando meu cérebro a conceitua.

Meu cérebro diz que distancia se mede em metros, km, milhas... meu coração diz que distancia se mede em ausencias que nem sempre ocorrem por estarmos separados geograficamente.

Hoje eu tenho acreditado mesmo que perto é lá onde o coração fez morada.

Estar perto de quem eu amo é estar conectado por caminhos diferenciados... caminhos que não se medem, não se delongam... são sempre presentes, atuais e próximos ao coração.

Sou saudosa de presença física, mas estou perto demais do coração de quem se distanciou para além dos meus olhos...

Eu curto estar perto das pessoas que amo... e para isso, ouso unicamente, viajar pelos caminhos do meu coração.


saudade ... é o coração dizendo pra onde quer voltar




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

nós...



Vovó... quem é essa mulher?



Com o olhar translúcido e levemente úmido, olho a vida com a mansidão de quem a percorreu com significados e compromisso.
Vejo marcas em meu corpo como resposta do tempo que vivi até hoje, e percebo-me experimentando sensações novas que a vida me presenteou com a chegada de um bebê... a filha da minha filha!
Essas marcas vão desde a necessidade de usar óculos para escrever essas linhas, até as mãos semi-enrugadas a dedilhar esse teclado.
Agora eu sou vovó e isso é novidade pra mim.
Essa palavra em meus ouvidos tem conotações estranhas. Provavelmente resultado de uma realidade de neta ou de um tempo em que as avós comunicavam para os netos impressões de antiguidade.
Eu não sinto essa antiguidade em mim, mas sei que a minha jovialidade está mais na experiência nova que vivo desde que Isadora nasceu, do que na flexibilidade de meus joelhos.
Quero a lucidez das avós que carregam a história da família em baús que se instalaram no coração.
Quero a lucidez para lembrar que sem mim, a Isadora não existiria e ela é resultado também de escolhas que eu fiz em minha vida.
Aí já começa a minha responsabilidade de avó.
Aí começam as novas lições que preciso exercitar na nova faze que se desenrola para minha alegria e para o meu compromisso.
Tudo o que posso fazer agora é revestir-me de gratidão e humildade para aprender com a Isadora a ser avó que valha a pena ser.
A consciência clara de que não sou sua mãe, penso que seja o primeiro passo e talvez o mais importante.
Olhando-a de um patamar distinto onde percebo nela traços familiares, preciso respeitá-la como uma criança que se assemelha com todas as crianças do mundo embora seja única.
Preciso saber o que as crianças querem e o que elas, verdadeiramente precisam para serem pessoas felizes.
Todas as crianças do mundo querem e precisam de amor.
Todas as crianças do mundo merecem ter uma família para experimentar esse amor imensurável que as possibilite crescer num espaço acolhedor.
Todas as crianças do mundo querem e precisam segurança fruto do reconhecimento daquilo que é certo e é errado, construindo e respeitando assim, os seus limites e as suas possibilidades.
Como avó, desafio-me a ser referencia disso tudo para Isadora.
Tendo o dialogo e o afeto como instrumento, nós avós temos a responsabilidade de comunicar toda a história de vida que nossa família escreveu.
E ainda dispormos continuar a escrita da nossa história que tem sementes de eternidade, plantadas no coração daqueles que vem depois de nós.
Acho que descobri na Isadora um antídoto contra envelhecimento: sinto-me criança novamente nela e com ela.
Obrigada, bebezinho da vovó!

Soni de Mello Santos
Escritora e Pedagoga

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Carta de uma criança aos seus pais

1. Não me mimem.
Eu sei muito bem que não devo ter tudo o que peço.

2. Não tenham medo de serem firmes comigo.
Eu prefiro. Isso me faz sentir seguro.

3. Não me deixem formar maus hábitos.
Eu tenho que confiar em vocês para detectá-los desde cedo.

4. Não me façam sentir menor do que sou.
Isso só me faz comportar estupidamente "grande".

5. Não me corrijam na frente das pessoas,
se vocês puderem evitar.
Vou prestar mais atenção se conversarem calmamente
comigo, em particular.

6. Não me façam sentir que os meus erros são "pecados".
Isso perturba o meu senso de valores.

7. Não me protejam das conseqüências.
Algumas vezes preciso aprender o caminho penoso.

8.Não fiquem muito perturbados quando disser: "Eu odeio vocês".
Algumas vezes não é a vocês que odeio,
mas meu poder de contrariar.

9. Não prestem muita atenção às minha pequenas doenças.
Algumas vezes elas conseguem a atenção de que eu preciso.

10. Não ralhem.
Se o fizerem, terei de me proteger,
fingindo-me de surdo.

11. Não se esqueçam de que eu não posso me explicar
tão bem quanto eu gostaria.
É por isso que eu
não sou sempre indeciso.

12. Não despistem quando eu fizer perguntas.
Se isso acontecer,
vocês perceberão que eu vou parar de perguntar
e vou procurar informação em outro lugar.

13. Não sejam inconsistentes.
Isso me confunde completamente
e me faz perder a fé em vocês.

14. Não me digam que meus modos são tolos.
Eles são terrivelmente reais
e vocês podem fazer muito para me
tranqüilizar, se vocês tentarem entender.

15. Nunca sugiram que vocês são perfeitos ou
infalíveis.
Isso me dá um choque enorme
quando descubro que vocês não são.

16. Nunca pensem que seja indigno se desculparem.
Uma desculpa honesta me faz sentir
surpreendemente sensível com vocês.

17. Não esqueçam que eu adoro experimentar.
Eu não poderia passar sem isso.
Assim por favor, tolerem.

18. Não se esqueçam de que eu estou crescendo rápido.
Deve ser muito difícil para vocês me acompanharem,
mas, por favor, tentem.

19. Não se esqueçam de que eu cresço
sem muito amor e compreensão.
Mas eu não preciso dizer, preciso?

20. Por favor, mantenham-se em forma e saudáveis.
Eu preciso de vocês.

(Bicalho Cruz Costa)

friiiiiiiio - muuuuuuuito friiiiiiiiiio: Isadora chegando



contagem regressiva...3...



segunda-feira, 23 de maio de 2011

Esperando a Isadora



Deus sempre cuida!



para a Ana...

"Ah! Como a arquitetura seria diferente se os arquitetos conhecessem também os mistérios da alma! Se Niemeyer tivesse feito terapia, Brasília seria outra. Brasília é arquitetura de arquitetos sem alma. Se eu fosse arquiteto minhas casas seriam planejadas em torno da cozinha. Das coisas boas que encontrei nos Estados Unidos nos tempos em que lá vivi estava o jeito de fazer as casas: a sala de estar, a sala de jantar, os livros, a escrivaninha, o aparelho de som, o jardim, todos integrados num enorme espaço integrado na cozinha. Todos podiam participar do ritual de cozinhar, enquanto ouviam música e conversavam. O ato de cozinhar, assim, era parte da convivência de família e amigos, e não apenas o ato de comer. Eu acho que nosso costume de fazer cozinhas isoladas do resto da casa é uma reminiscência dos tempos em que elas eram lugar de cozinheiras negras escravas, enquanto as sinhás e sinhazinhas se dedicavam, em lugares mais limpos, a atividades próprias de dondocas como o ponto de cruz, o frivolité, o crivo, a pintura e a música. Se alguém me dissesse, arquiteto, que o seu desejo era uma cozinha funcional e prática, eu imediatamente compreenderia que nossos sonhos não combinavam, delicadamente me despediria e lhes passaria o cartão de visitas de um arquiteto sem memórias de cozinhas de Minas." Rubem Alves

domingo, 8 de maio de 2011

por eles...

dia da mãe soni...

Embalada pela minha mãe, vislumbrei o mundo como se fosse berço.
Para lá e para cá, ao ritmo de uma ciranda de ninar, ou de uma ciranda de despertar.
Um mundo como berço, uma mãe como arquiteta dos sonhos infantis e tudo se descortinava aos meus olhos com segurança e beleza.
Descobri o mundo assim, na tranqüilidade de filha e na fortaleza da minha mãe.
O tempo é como um professor que vai nos mostrando as verdadeiras facetas da vida. Ele dá as coordenadas para que as aprendizagens venham sendo incrementadas.
Com o tempo, logo, logo, percebi que o mundo não era um berço, porque precisei “cair fora” dos braços da mãe para que meus irmãos desfrutassem da mesma experiência.
Então o mundo, como um elástico, foi tomando outras proporções.
Não cabia na minha casa,,, se estendia até minha escola e assim por diante.
Embrenhando-me nesse mundão sem fim, cada dia vejo-o maior e cada dia, percebo-me mais e mais aprendiz, como criança que ainda não viu muita coisa nem sabe da vida as suas artimanhas.
Numa das lições que o tempo colocou-me como tema, experimentei ser mãe.
Referencia em minha vida, eu tinha de sobra.
A minha mãe me dera pistas do que seria exercer esse papel.
Precisava estar disponível para embalar o berço, mesmo que fosse pela madrugada.
Depois, precisava que o cuidado com a criança fosse maior e mais importante do que o cuidado comigo mesma.
Saciar a fome do filhote é dar-se a ele, através do seio. Acalmar suas angústias infantis, com a coragem de uma guerreira. Mesmo fragilizada, dar segurança ao rebento com uma curta mensagem oral: EU ESTOU AQUI.
Sim, essas dicas que recebi da minha mãe foram norteando a minha ousada missão de mãe.
O mundo que não era berço era o grande baú onde se encontrava todo o tipo de instrumento que eu quisesse usar.
Nele encontrei mil e uma histórias de mães, tão bravas e corajosas quanto a minha e os instrumentos usados por elas para que eu fosse tomando pé e sentindo que ser mais uma delas, era possível.
Coisa estranha que aprendi nas três vezes que fui mãe era que eu precisava olhar para cada criança, com um olhar especial, único, específico ao desejo e necessidade que cada uma delas tinha.
Então eu percebi que eu não podia seu uma única mãe. Eu precisava ser três. Uma mãe para a Tamar, outra mãe para o Tiago e outra mãe ainda, para a Ana.
Vivendo esse trio materno, compreendi a difícil tarefa da minha mãe que se desdobrou em sete e teve sucesso sabendo reger tão bem a orquestra familiar.
Eu sou uma mãe feito berço... continuo embalando meus filhos, mesmo quando eles já pularam fora.
Algumas vezes não soube ser a mãe que eles precisaram para aquele momento, mas sou generosa comigo para não me revestir de culpas.
Afinal, ninguém nasce sabendo ser mãe.
Isso é lição de vida inteira e só sobrevive quem tem boa vontade, tem referências e sabe doar-se.

Soni de Mello Santos
Escritora e Pedagoga

domingo, 24 de abril de 2011

“A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”.

Páscoa...Vida que brota das trevas!

Acreditar ou não acreditar é apenas um jeito de "ver".
Olhares que pousam sobre aquilo que é a sua verdade interior.
Para alguns, apenas contos que se estendem pelos tempos e nada mais. Para outros, reflexos de suas experiências de mortes e de vida.
Eu creio na Ressurreição porque tenho sede de beber água da fonte. E a fonte maior que pude encontrar e saciar minha sede é a vida. Não consigo adormecer na morte. Faz mal pra mim; desintegra-me como pessoa humana, não ter esperança.
Não admito ser apenas um acidente nesse mundo. Cheguei por acaso? Como assim?
Na busca de respostas inteligentes, solidifiquei minhas crenças num Ser Superior que me chamou pra vida. Não aceito a tese de que o acaso me constitui.
Diante da barriga de minha filha, vivendo com ela a esperança da chegada de uma criança, não admito acaso. Se assim fosse, os sonhos, os projectos e as mil e umas cantigas da alma seriam desnecessárias e burras.
é Páscoa, graças a Deus. É tempo de passagem. É vida que vence a inercia. É sonho que se alimenta e se projeta na realidade da própria existencia.
Jesus venceu a morte e acenou-nos com a vida Eterna. Como será, não sei. Sei que será melhor que sucumbir sem esperanças. Não desejaria a vida para ninguém, se esssa fosse apenas, um passeio curto rumo a lugar nenhum.
Páscoa é a vida nos acenado com uma promessa: Jesus foi preparar um lugar para que, com Ele, estejamos todos nós.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Quando você carrega uma Bíblia, Satanás fica com dor de cabeça...
Quando você abre a Bíblia, ele desmorona...
Quando ele vê você lendo a Bíblia, ele desmaia...
Quando ele vê você vivendo o que você lê, ele foge...
E quando você estiver a ponto de repassar esta mensagem... ele tentará desencorajar você...
Eu acabei de vencer estes obstáculos, pela Graça de Deus!
Alguém mais?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Silencia minha alma, silencia...
Não fica querendo entender as coisas que estão incompreensíveis nessa hora. É cedo ainda. Há tempo pra que essas coisas se desvelem... ou se revelem. Não sofras tanto por causas tão frágeis e tão sutis. A vida é dureza e a compreensão da mesma é apenas uma das suas facetas. Absorva a vida por inteiro sem desejar desnudá-la. Apenas absorva-a com mansidão e languidez. Então ela se mostrará inteira e na sua inteireza, encontrarás a resposta para todas as tuas inquietações.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

por causa da saudade do Davi

Fico pensando se escrever fosse remédio pra matar saudade eu, com certeza, escreveria um milhão de páginas.
O que eu quero dizer com isso?
Quero dizer que a saudade é um bichinho malvado que me persegue o dia todo, mas eu o espanto com minhas andanças de cá para lá. Porém quando chega a noite, ela me alcança e toma conta de mim. É que eu não resisto a ela. Talvez porque estou cansada da lida, talvez, porque resistir me deprime... ou porque começo a sentir um leve prazer, tipo um contentamento descontente, uma presença ausente, uma alegria triste... e isso basta para ocupar meu pensamento num dia que quer dormir.
Muitas vezes sinto a saudade desses dias que se despedem, porque, de alguma forma, foram eles que semearam em mim a resistência para fugir das saudades.
Como pode o ser humano, viver e ser feliz, deixando atrás de si aquilo que o constituiu como tal?
Eu não sei ser feliz assim, juntando os cacos em minha memória, para recuperar aquilo que foi real e inteiro na minha vida e se quebrou.
Hoje sinto saudade. Muita saudade!
A ”bichinha” encontrou-me desprevenida e tomou conta da casa.
Como sempre, nem pede licença. Abanca-se do meu lado e faz perguntas imbecis.
Hoje ela veio me perguntar como é que eu agüento ficar um ano inteirinho longe do meu irmão.
Quando percebi a sacanagem da pergunta entendi o que a saudade queria. Ela só desejava ver-me chorar um pouco pra depois sossegar minha alma.
Fazendo um parêntese, aprendi que lágrima é a melhor maneira de afogar saudade. Saudade não resiste às lágrimas... elas se afogam. Eu já tive prova disso.
Ao ser interpelada por uma questão tão absurda, a primeira resposta foi outra pergunta: quem disse que eu agüento?
Quando meu irmão era bebê e eu tinha apenas três anos de idade, eu já não agüentava muita coisa. Não agüentava vê-lo muito doente, com fortes crises de asma, com alergia em todo o seu corpinho miúdo... Eu não agüentava e chorava (a gente não chora só de saudade). Ele crescia e demorava a ficar curado. Meu pai peregrinava com ele para tantos lugares em busca de médicos. Eu não agüentava vê-lo se ausentando das nossas brincadeiras de criança por causa de sua saúde fragilizada.
Depois que o tempo desfilou mais depressa e a gente já se achava “grande”, ele foi o meu irmão grandão. O primeiro irmão menino. “O cara”. Aquele que me escutava e me levava pra passear.
Agora, além de irmão, ele é marido, é pai, é avô. Ele tem sua casa, sua família e seus sonhos. Penso que conheço meu irmão, mas não conheço direito os seus sonhos. Aliás, não os compreendo, porque para realizá-los, ele se foi embora.
Já passou um ano que eu não vejo os meus olhos refletidos nos olhos do meu irmão e nem consigo segurar as mãos calejadas dele, nem sentir seu cheiro, nem passar a mão nos seus cabelos encaracolados.
Talvez porque eu esteja muito triste, eu não consigo entender como foi que eu fiquei fora dos seus sonhos. Temo que a gente se acostume com a distancia e faça da saudade apenas uma ausência qualquer.
Como é que eu agüento ficar tanto tempo longe?
Não agüento, mas sobrevivo por causa das minhas falas contidas que se derramam nesse papel.
Eu já liberei meu pranto, já soltei meu grito e já posso dormir.
Eu sou forte e resisto... e essa saudade não me pega tão fácil assim, jamais. Até o dia em que eu quiser deixá-la entrar em mim.
Sou livre também pra sentir saudade.
Ela não manda em mim... (até parece) (03.01.11)

saudade do Davi

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Nos porões...

Entrei nos porões da alma e revisitei espaços que, pelos tempos idos, já se tornavam estranhos e distantes.
Entre umas e outras frestas, fui percorrendo lugares e acendendo luzes sobre os mesmos.
Percebi que rememorar é acender luz sobre esquecimentos. É também uma forma agradável de trazer pra perto, aquilo que se fez distante por causa das concretudes da vida.
Querendo recuperar o tempo, ou pelo menos revisitá-lo sem saudades ou amarguras, focalizei meus rastros, sinalizando-me uma infância cheia de significados novos.
Novos por causa da consciência que se acendeu no momento em que adentrei os porões e me permiti ser feliz com a realidade que neles se encontrava.
Ficam nos porões da alma aquelas histórias que não tiveram fins brilhantes e que traçaram nela, marcas rotas e cinzentas.
Histórias felizes saem para a luz e tomam posse das saletas mais dignas da casa que habitamos.
Então nos porões encontrei as minhas frustrações e as limitações que não soube administrar. Encarcerei-as lá e passei a tramela para que não me perturbassem.
Interessante essa capacidade humana de vislumbrar apenas aquilo que se quer e de colocar pedras sobre situações que perturbam nosso coração. É jeito que se acha de salvaguardar a nossa integridade mental e sobreviver.
Hoje eu disse para mim pela primeira vez: a minha neta vai chegar em breve.
Essa frase abriu a tramela do porão e de lá soou uma sentença inteiramente real: “você também é neta...
Então passeei pelo tempo em que ser neta tinha conotações muito interessantes pra mim.
Percebi que ser neta, em determinado tempo de minha vida, foi mais forte em emoções do que ser filha.
Revisitando os porões da alma desejei entender-me como neta e perdoar minhas imperfeições como tal.
Na minha casa de infância, num primeiro momento, conheci uma família que se constituía assim: meu avô, meu pai, minha mãe e eu.
Minha mãe fazia comida e lavava roupas no rio.
Meu pai arava a terra, cuidava dos animais e supria de mantimentos a nossa casa.
Meu avô cuidava de mim.
Ele, o meu avô, tinha os cabelos alvos como algodão, as mãos firmes que conduziam o cavalo nos nossos passeios, os joelhos fortes que me apoiavam enquanto contava histórias para mim. Ele era um personagem que me fascinava e me possibilitava crescer com segurança. Conversava comigo. Contava-me histórias ricas de detalhes e imaginação. Ensinava-me cantar modinhas e dizer versos. Incentivava-me a me apresentar para as visitas, cantando ou declamando cantigas e prosas.
Meu avô era manso e forte.
Com ele aprendi cavalgar e, ao tomar as rédeas do cavalo, exercitei-me a tomar as rédeas da minha vida e a conduzi-la com dignidade e firmeza.
E eu sei que aprendi ter segurança e acreditar que nunca estaria só, quando meu avô me ensinou a rezar.
Antes de adormecer, muitas vezes em seu colo, eu pedia a proteção do Anjo da Guarda e o cuidado de Deus.
Foi assim que eu me identifiquei como neta.
Mas por que então, guardei nos porões essa minha história?
Ao mesmo tempo em que tive o meu avô perto de mim, fui neta da minha avó materna que aparecia lá em casa sempre que minha mãe ia ganhar mais um bebê. Sempre acreditei que minha avó não gostava de mim. (Seria porque ela chegava e logo eu perdia um pouco mais a minha mãe para meus irmãos?)
Minha avó era uma pequenina senhora, muito inteligente e muito cheia de regras.
- Não suba nas árvores; seja comportada; não coma os biscoitos que fiz pra sua mãe; não ande a cavalo pelos campos como se fosse menino; cuide dos seus irmãos menores (e eu não era menor que ninguém); ajude nas tarefas de casa; vá buscar água no poço; você é grande, então se comporte como tal; ajude mais sua mãe; dê bons exemplos pros teus irmãos; (eram muitas solicitações para um curto espaço de tempo em que ela ficava perto de mim).
Eu tinha seis anos quando meu avô faleceu. Essa realidade foi muito chocante para mim. Eu perdi aí uma referencia mais do que especial para minha vida. Quando eu tinha treze anos perdi a minha avó.
A partir daí fechei no porão da alma a minha condição de neta.
Hoje eu disse pra mim: a minha neta vai chegar em breve.
Então tomei coragem e visitei-me como neta.
Sei que só poderei ser uma avó que valha a pena se eu clarear minha pequena história de infância e compreender-me como pessoa na relação que tive com meu avô e minha avó. E assim também, compreende-los nas suas diferenças radicas que se fizeram ao se apresentarem para mim.
Hoje os porões da minha alma estão tomando um banho de claridade e me fazendo mais segura ao adentrá-los e passear por eles como avó que serei daqui a pouco.
Quero acolher a minha neta e escrever com ela, um novo recomeço, porque a vida nos chama sempre para fora dos nossos porões e para um espaço privilegiado da nossa alma: a sala de estar. É ai que a completude da vida se faz maior que os medos das tramelas que nos limitam.

Soni de Mello Santos – Escritora e Pedagoga (e agora avó)