Quem sou eu?

Minha foto
Quem sou? Isso importa? Sou apenas uma que bate na porta e diz um verso...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Esperando a Isadora



Deus sempre cuida!



para a Ana...

"Ah! Como a arquitetura seria diferente se os arquitetos conhecessem também os mistérios da alma! Se Niemeyer tivesse feito terapia, Brasília seria outra. Brasília é arquitetura de arquitetos sem alma. Se eu fosse arquiteto minhas casas seriam planejadas em torno da cozinha. Das coisas boas que encontrei nos Estados Unidos nos tempos em que lá vivi estava o jeito de fazer as casas: a sala de estar, a sala de jantar, os livros, a escrivaninha, o aparelho de som, o jardim, todos integrados num enorme espaço integrado na cozinha. Todos podiam participar do ritual de cozinhar, enquanto ouviam música e conversavam. O ato de cozinhar, assim, era parte da convivência de família e amigos, e não apenas o ato de comer. Eu acho que nosso costume de fazer cozinhas isoladas do resto da casa é uma reminiscência dos tempos em que elas eram lugar de cozinheiras negras escravas, enquanto as sinhás e sinhazinhas se dedicavam, em lugares mais limpos, a atividades próprias de dondocas como o ponto de cruz, o frivolité, o crivo, a pintura e a música. Se alguém me dissesse, arquiteto, que o seu desejo era uma cozinha funcional e prática, eu imediatamente compreenderia que nossos sonhos não combinavam, delicadamente me despediria e lhes passaria o cartão de visitas de um arquiteto sem memórias de cozinhas de Minas." Rubem Alves

domingo, 8 de maio de 2011

por eles...

dia da mãe soni...

Embalada pela minha mãe, vislumbrei o mundo como se fosse berço.
Para lá e para cá, ao ritmo de uma ciranda de ninar, ou de uma ciranda de despertar.
Um mundo como berço, uma mãe como arquiteta dos sonhos infantis e tudo se descortinava aos meus olhos com segurança e beleza.
Descobri o mundo assim, na tranqüilidade de filha e na fortaleza da minha mãe.
O tempo é como um professor que vai nos mostrando as verdadeiras facetas da vida. Ele dá as coordenadas para que as aprendizagens venham sendo incrementadas.
Com o tempo, logo, logo, percebi que o mundo não era um berço, porque precisei “cair fora” dos braços da mãe para que meus irmãos desfrutassem da mesma experiência.
Então o mundo, como um elástico, foi tomando outras proporções.
Não cabia na minha casa,,, se estendia até minha escola e assim por diante.
Embrenhando-me nesse mundão sem fim, cada dia vejo-o maior e cada dia, percebo-me mais e mais aprendiz, como criança que ainda não viu muita coisa nem sabe da vida as suas artimanhas.
Numa das lições que o tempo colocou-me como tema, experimentei ser mãe.
Referencia em minha vida, eu tinha de sobra.
A minha mãe me dera pistas do que seria exercer esse papel.
Precisava estar disponível para embalar o berço, mesmo que fosse pela madrugada.
Depois, precisava que o cuidado com a criança fosse maior e mais importante do que o cuidado comigo mesma.
Saciar a fome do filhote é dar-se a ele, através do seio. Acalmar suas angústias infantis, com a coragem de uma guerreira. Mesmo fragilizada, dar segurança ao rebento com uma curta mensagem oral: EU ESTOU AQUI.
Sim, essas dicas que recebi da minha mãe foram norteando a minha ousada missão de mãe.
O mundo que não era berço era o grande baú onde se encontrava todo o tipo de instrumento que eu quisesse usar.
Nele encontrei mil e uma histórias de mães, tão bravas e corajosas quanto a minha e os instrumentos usados por elas para que eu fosse tomando pé e sentindo que ser mais uma delas, era possível.
Coisa estranha que aprendi nas três vezes que fui mãe era que eu precisava olhar para cada criança, com um olhar especial, único, específico ao desejo e necessidade que cada uma delas tinha.
Então eu percebi que eu não podia seu uma única mãe. Eu precisava ser três. Uma mãe para a Tamar, outra mãe para o Tiago e outra mãe ainda, para a Ana.
Vivendo esse trio materno, compreendi a difícil tarefa da minha mãe que se desdobrou em sete e teve sucesso sabendo reger tão bem a orquestra familiar.
Eu sou uma mãe feito berço... continuo embalando meus filhos, mesmo quando eles já pularam fora.
Algumas vezes não soube ser a mãe que eles precisaram para aquele momento, mas sou generosa comigo para não me revestir de culpas.
Afinal, ninguém nasce sabendo ser mãe.
Isso é lição de vida inteira e só sobrevive quem tem boa vontade, tem referências e sabe doar-se.

Soni de Mello Santos
Escritora e Pedagoga