Com o olhar translúcido e levemente úmido, olho a vida com a mansidão de quem a percorreu com significados e compromisso.
Vejo marcas em meu corpo como resposta do tempo que vivi até hoje, e percebo-me experimentando sensações novas que a vida me presenteou com a chegada de um bebê... a filha da minha filha!
Essas marcas vão desde a necessidade de usar óculos para escrever essas linhas, até as mãos semi-enrugadas a dedilhar esse teclado.
Agora eu sou vovó e isso é novidade pra mim.
Essa palavra em meus ouvidos tem conotações estranhas. Provavelmente resultado de uma realidade de neta ou de um tempo em que as avós comunicavam para os netos impressões de antiguidade.
Eu não sinto essa antiguidade em mim, mas sei que a minha jovialidade está mais na experiência nova que vivo desde que Isadora nasceu, do que na flexibilidade de meus joelhos.
Quero a lucidez das avós que carregam a história da família em baús que se instalaram no coração.
Quero a lucidez para lembrar que sem mim, a Isadora não existiria e ela é resultado também de escolhas que eu fiz em minha vida.
Aí já começa a minha responsabilidade de avó.
Aí começam as novas lições que preciso exercitar na nova faze que se desenrola para minha alegria e para o meu compromisso.
Tudo o que posso fazer agora é revestir-me de gratidão e humildade para aprender com a Isadora a ser avó que valha a pena ser.
A consciência clara de que não sou sua mãe, penso que seja o primeiro passo e talvez o mais importante.
Olhando-a de um patamar distinto onde percebo nela traços familiares, preciso respeitá-la como uma criança que se assemelha com todas as crianças do mundo embora seja única.
Preciso saber o que as crianças querem e o que elas, verdadeiramente precisam para serem pessoas felizes.
Todas as crianças do mundo querem e precisam de amor.
Todas as crianças do mundo merecem ter uma família para experimentar esse amor imensurável que as possibilite crescer num espaço acolhedor.
Todas as crianças do mundo querem e precisam segurança fruto do reconhecimento daquilo que é certo e é errado, construindo e respeitando assim, os seus limites e as suas possibilidades.
Como avó, desafio-me a ser referencia disso tudo para Isadora.
Tendo o dialogo e o afeto como instrumento, nós avós temos a responsabilidade de comunicar toda a história de vida que nossa família escreveu.
E ainda dispormos continuar a escrita da nossa história que tem sementes de eternidade, plantadas no coração daqueles que vem depois de nós.
Acho que descobri na Isadora um antídoto contra envelhecimento: sinto-me criança novamente nela e com ela.
Obrigada, bebezinho da vovó!
Soni de Mello Santos
Escritora e Pedagoga
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